28 dezembro 2013

Captar recursos não é pedir dinheiro


Muitas pessoas acreditam que “captar recursos” seja apenas pedir um “dinheirinho” para ajudar as pessoas carentes e para estes, terminaria aí o processo uma vez que o objetivo inicial proposto foi conseguido. Como ponto de partida, é preciso que se entenda que este trabalho vai muito além do obter recursos para finalidades imediatas, se trata de conquistar e fidelizar parceiros. A forma mais simples de se obter recursos é através de projetos.

O processo pode ser dividido em seis fases distintas, interligadas: 1. Prospecção; 2. Formatação do Projeto; 3. Apresentação e Negociação; 4. Implementação; 5. Prestação de contas; 6. Fidelização.

1. PROSPECÇÃO: O trabalho começa com o levantamento de parceiros potenciais. A parceria só é duradoura quando existe afinidade, precisamos buscar o parceiro certo para o projeto certo.

2. FORMATAÇÃO DO PROJETO Projeto é planejamento e planejamento é atividade coletiva, assim O “formatador” de projetos irá ouvir beneficiários, técnicos e o gerente do projeto, pois ele apenas dá forma ao projeto. Um projeto mal formulado terá muitos problemas durante implementação e na prestação de contas. Deve-se ter em mente que projetos são formatados pensando no seu gerente e ao financiador se fornece informações solicitadas. Projeto não é tese de mestrado, é um plano de negócios.

3. APRESENTAÇÃO E NEGOCIAÇÃO Primeiro é preciso saber que não se está “vendendo projetos”, mas conquistando parceiros. É importante conhecer o parceiro para saber que razão ele teria para participar do projeto e lembrar que é necessário cumprir o que se promete.

4. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO Implementar um projeto significa atingir seus objetivos em termos de quantidade e qualidade, no prazo determinado e dentro do orçamento estabelecido. Isto significa que preciso tanto de um projeto bem formatado com todas as suas atividades descritas, quantificadas, orçadas e com prazos determinados, quanto de um Gerente que saiba administrar informação e pessoal.

5. PRESTAÇÃO DE CONTAS É preciso discernir que prestação de contas não é prestação de contos, não se busca histórias ou justificativas, mas resultados e respostas diretas provando que seus gastos foram realizados da forma prevista, sob pena de devolver os recursos por não ter suas contas aprovadas.

6. FIDELIZAÇÃO A fidelização começa no momento seguinte a conquista. Para isto é imprescindível que alguém no papel de ouvidor tenha contato regular com o parceiro para consultá-lo e ouví-lo, afinal ele é sócio do projeto. São estes procedimentos que transformam uma instituição pedinte em uma instituição com uma captação de recursos profissional, que transformam uma pessoa com sentimento de culpa em um parceiro, que transformam uma parceria em muitas parcerias e que transformam, principalmente, poucos recursos em muitos recursos!

Por Ricardo Falcão

04 outubro 2013

Os ciclos da vida e os anos de Odisseia


Ciclo é um fenômeno evolutivo, em que vários acontecimentos se sucedem em uma ordem determinada. A natureza é cheia de ciclos e nós participamos deles em todas as nossas atividades do nascimento até a morte.

Os ciclos psicossociais, de maior complexidade, são abertos pela idade (infância, adolescência, maturidade), pelas relações (namoros, casamento, família) e pelas atividades (escola, formação, empregos). Nunca passamos de um desses ciclos para o seguinte impunemente, sempre é traumático. Se por um lado não temos como fugir dessas crises existenciais, por outro aprendemos com elas e por isso amadurecemos e evoluímos. Na evolução natural das coisas, uma crise é um momento ou fase difícil em que fatos, ideias, status ou situações são questionados propiciando uma mudança. Crise significa ruptura, perda de equilíbrio. As crises são vistas como momentos perigosos e decisivos, entretanto são identificadas como oportunidades de crescimento e de transformação para melhor. Só que, para isso, é necessário certo grau de amadurecimento, coisa que nas primeiras crises da vida, nós não temos.

Voltando a falar dos ciclos, temos que lembrar que, por definição, eles se completam em si mesmos. Um ciclo só se resolve quando se fecha. Quando isso não acontece, levamos resquícios mal resolvidos para o novo ciclo que está se abrindo – e que acaba sendo prejudicado pela não-resolução do ciclo anterior. E fechar ciclos não é assim tão fácil – exatamente por pressupor algo desconhecido.
É de praxe dividir a vida de uma pessoa em quatro fases: infância, adolescência, maturidade e velhice. Mas cada uma dessas quatro fases apresenta-se dividida em um número variável de subfases, a tal ponto de algumas delas já serem consideradas novas etapas.

Entre a adolescência e a maturidade atualmente colocamos mais uma, bem definida, que, curiosamente, é chamada de fase dos Anos de Odisseia (nome proposto pelos psicólogos). É que é justamente nessa idade que o jovem enfrenta sua primeira crise existencial diante do imenso conjunto de oportunidades que estão à disposição de sua vida – uma verdadeira odisseia. Escolhas são difíceis porque pressupõem renúncias. Quando escolhemos uma profissão, por exemplo, abrimos mão de todas as outras – ou pelo menos é o que o jovem-dono-do-futuro acredita. A escolha de uma carreira transforma-se em uma espécie de condenação, que após olhar maravilhado para o imenso cardápio que a vida lhe oferece, vê que precisa decidir seu futuro, JÁ, AGORA, NESTE MOMENTO.

Imagine então, como se encontram as juventudes que estão inseridas em áreas de baixa renda, onde as oportunidades são tão poucas que os impedem de vivenciar o aprender a escolher. Muitas, e na maioria das vezes, a escolha mais comum que eles se deparam para exercitar é entre decidir se entram no caminho aparentemente mais fácil e lucrativo da marginalidade ou “ser cidadão de bem”. Na realidade estas duas opções não passam de uma forma disfarçada de falta de opção. E se optam por escolher o caminho da marginalidade, escutam “Agora você está condenado a viver a margem da lei pelo resto da vida”. Um ciclo é anulado, ou por melhor dizer, vários ciclos lhe são negados, desde a infância não vivida, ao ciclo que lhe proporciona a maturidade necessária para a vida adulta. Um novelo de ciclos abertos e não fechados vão se avolumando em suas vidas formando uma confusão que dificulta a formação de sua identidade e consequentemente direcionamento e desenvolvimento pessoal e profissional.

Para resolver isso precisamos antes abrir e fechar alguns dos ciclos para depois podermos falar sobre trabalho. É preciso que ele se identifique como pessoa com características próprias, para então encontrar o trabalho certo para ele dentro de muitas opções. Desde que a própria pessoa queira, ele pode se transformar na pessoa certa para o trabalho que quer. Tudo é uma questão de recursos, meios, determinação e tempo. Isto pode ser alcançado em uma  parceria, onde um lado entra com recursos e meios e o jovem entra com a determinação e o tempo.
Assim criaremos reais opções que lhes permitam sonhar com algo melhor, escolher seu trabalho, ter um salário decente e viver a vida com dignidade.



Por Rose Lira e Ricardo Falcão.

02 outubro 2013

Elaboração de projetos e a capacitação de recursos


Hoje se faz necessário uma mudança em nosso entendimento do que é um projeto. Um livro ou uma tese de mestrado podem ser objetivos de projeto, mas não são um projeto. Um projeto é antes de tudo um plano de trabalho, portanto uma atividade de planejamento. Como toda e qualquer atividade de planejamento, um projeto precisa responder três perguntas básicas: Onde estou? Aonde eu quero chegar? Como chegar lá? Um projeto tem que ser simples e claro, ter objetivos geral e específico e atividades, ter indicadores mensuráveis, beneficiários, cronograma e orçamento. Mas um projeto precisa ter também mercado, de nada adianta desenvolvermos um projeto perfeito em todos os aspectos, se não encontramos quem o financie, ou seja, se não encontramos mercado para ele. Diferentes instituições usam diferentes tópicos e nomes para os tópicos que apresentaremos a seguir, portanto não se fixem nos nomes utilizados, mas sim nos conceitos por eles representados.

Um bom projeto deve ter, no mínimo, os seguintes tópicos: 1. Instituição; 2. Justificativa do projeto; 3. Objetivo Geral; 4. Objetivo Específico; 5. Atividades; 6. Indicadores / Verificação; 7. Fatores de Risco e Mitigantes; 8. Metodologia; 9. Cronograma; 10. Orçamento.


Antes de elaborar um projeto com estes 10 tópicos, sugerimos que uma pesquisa de mercado com o pré-projeto que é composto pelos quatros primeiros tópicos, sendo que a duração e custo do projeto serão estimados. Sendo a elaboração de projeto uma atividade de planejamento, ela deve ser feita em grupo, portanto ao realizar a pesquisa entre beneficiários e possíveis sócios, estes devem ser convidados a participarem da elaboração do projeto. Ao escrever o projeto procure usar uma linguagem adequada a instituição que irá recebê-lo, seja objetivo, e ressalte as partes positivas como auto sustentabilidade, credibilidade e experiência na área. Resumindo, um projeto é uma forma de planejamento. Assim como o projeto todas as atividades que envolvem a elaboração do projeto devem ser levantadas, analisadas e suas ações planejadas profissionalmente. Captar recursos é antes de tudo conquistar um parceiro. O que vamos discutir é como conquistar. Atualmente a grande fonte de recurso para os nossos projetos é a iniciativa privada, embora existam muitos recursos internacionais e governamentais. Mas hoje em dia os grandes financiadores têm responsabilidade social e fazem investimentos sociais e não assistencialismo, o que exige um melhor preparo do captador de recursos. 

O problema mais comum com o qual nos deparamos é causado por nossa formação cultural. Temos por hábito mendigar e não propor um investimento social. A ideia de se colocar um projeto embaixo do braço e sair batendo de porta em porta está sendo substituída por uma atitude mais profissional. É preciso dar ao projeto, o mesmo tratamento que as empresas dão aos seus produtos. Pesquisas de mercado são fundamentais para a captação de recursos. Necessitamos determinar, então: O que apresentar; Para quem apresentar; e Quando apresentar.

O que apresentar? Nossa preocupação deve ser em apresentar uma ideia, que daqui para frente vamos chamar de projeto, consistente que tenha início, meio e fim. Que tenha meios de acompanhamento/formas de verificação e indicadores de resultado. Para quem vender? Faz-se necessário pesquisar quem seria o seu mercado, a quem interessaria o seu projeto, qual o tipo de empresa, seus interesses, em que tipos de projeto já ela investiu, e acima de tudo, que retorno o investidor teria. Quando vender? Precisamos saber qual a situação da empresa; se está pensando em expandir, se tem dívidas na praça, se está contratando ou demitindo, enfim, determinar se este é o momento adequado para apresentar-lhe seu projeto.

O captador de recursos. Nem todos nós nascemos para vender, mas, com a devida preparação, quase todos nós podemos fazê-lo. Esta preparação incluí: 1. Lembrar que antes de vender o projeto, nós vamos vender a nossa imagem, a imagem da instituição que representamos, e, por fim, o projeto; 2. 


Conhecer profundamente o projeto que estamos apresentando; 3. Uma atitude adequada é tão fundamental quanto a roupa e a linguagem adequada. Para isso, devemos ter em mente que não vamos pedir um "dinheirinho", mas PROPÔR UM INVESTIMENTO. Quem pede um dinheirinho leva um trocado, quem propõe um investimento capta recursos. Devemos ter em mente que estas pessoas estão acostumadas a negociar. Por isso devemos praticar, ensaiando com alguém que não conhece o projeto, até estarmos seguros e confiantes. Evite emitir opiniões políticas, religiosas ou outras no gênero. Seja breve e deixe tempo para perguntas. Ouça as opiniões do possível investidor sem nunca descartá-las. Outro problema cultural que devemos superar é a tendência para vender miséria. O que vende é sucesso.

Por Ricardo Falcão

01 outubro 2013

Cultura de paz e os afetos


Estamos vivendo em nosso cotidiano um contexto repleto de violência. A violência se evidencia de várias formas, explícitas e sutis. Vemos seus efeitos em nossas ruas, em nosso ambiente de trabalho, na escola, no lar, nas expressões de arte e cultura, na comunicação, no entretenimento, enfim, estamos imersos em uma cultura de violência de tal forma, que muitas vezes vemos ela se desenvolver em nossos relacionamentos mais diretos, em meio àqueles que amamos e desejamos defender e proteger dessa mesma violência. E nesse cenário é que nos percebemos ao mesmo tempo vítimas e protagonistas da mesma.

Estão inseridos e imersos em um contexto de violência e negação da vida. Temos como desafio nesse universo que reforça o individualismo e a indiferença - que também são formas sutis de violência - de sermos fomentadores da amizade, da valorização da vida, da partilha, do respeito pelo meio ambiente, da alegria e do desejo pelo desenvolvimento individual e coletivo. Um compromisso com a inserção de princípios pacificadores e vivenciais, que possam influenciar positivamente o ser humano de forma plena.

Acreditar, vivenciar e estimular uma cultura que valoriza a VINCULAÇÃO AFETIVA dos sujeitos entre si e com a comunidade a qual fazem parte, ajuda a formação da consciência da situação de opressão social que nos envolve e a formação de uma identidade que nos impulsiona a gerar um compromisso com a mudança, originado pela solidariedade e afetividade ao invés de ser promovido unicamente pelo sentimento de inconformismo e insatisfação que em alguns momentos desembocam em ações agressivas e pautadas pelo ódio. Uma pretensão de mudança sociocultural não conectada com as crenças, valores e princípios não tem como se transformar em cultura propriamente dita. O primeiro passo, para uma cultura de paz ser realidade, e para uma vida melhor, começa dentro de cada um de nós e culmina com a construção de uma forma de vivencia pacífica e humanizada na família, na comunidade e na sociedade.

A afetividade e as emoções são o cimento da identidade, e a identidade por sua vez sendo desenvolvida, fortalece a situação vincular na sociedade que gera transformação advinda não só da construção de uma gélida racionalidade, mas também das expressões de afeto nos relacionamentos interpessoais. A razão e a emoção, o inconformismo associado a solidariedade, a justiça e a paz, tudo isso será possível através do desenvolvimento de um novo olhar capaz de perceber a complexidade que envolve a simplicidade da vivência de uma Cultura de Paz, uma utopia possível.

Por Rose Lira.